Poesia, música, justiça e cinema. E também um pouco de anarquia. Viva a esquerda humanista! Este é um espaço do tamanho da alma, de braços abertos às palavras, às imagens e aos sons que nos fascinam.
quinta-feira, 15 de julho de 2010
Santo Ofício
Que nascemos da noite, das árvores, das nuvens.
Que viemos, amámos, pecámos e partimos
Como a água das chuvas.
Tu lhes dirás, meu amor, que ambos nos sorrimos
Do que dizem e pensam
E que a nossa aventura,
É no vento que passa que a ouvimos,
É no nosso silêncio que perdura
Tu lhes dirás, meu amor, que nós não falaremos
E que enterrámos vivo o fogo que nos queima,
Tu lhes dirás, meu amor, se fôr preciso,
Que nos espreguiçaremos na fogueira
José Carlos Ary dos Santos
A liturgia do Sangue (1963)
segunda-feira, 5 de julho de 2010
Filmes a não perder
Rita Hayworth foi um mito de hollywood e Glenn Ford considerado um actor de poucos recursos. No entanto, GILDA é uma obra-prima que qualquer amante de cinema não pode deixar de ver. Realizado por Charles Vidor, foi um filme avançado para a época (1946), cheio de sensualidade e até erotismo. Rita Hayworth e Glenn Ford tiveram aqui o seu momento de glória para puro prazer de quem gosta de cinema. É um clássico indispensável.
NO MEU TEMPO
Na natureza as fêmeas acasalam com os machos, salvo nos casos de hermafroditismo. Agora provou-se que a natureza nem sempre tem razão.
Mas esta geração impõe um limite: embora considere o amor como um conceito muito mais abrangente que a geração anterior, só pode acontecer entre seres humanos. Quem pense que pode casar com o cão ou com o gato (ou com o burro), tire daí a ideia. Ainda que goste mais do animal do que de qualquer ser humano.
Como o Estado constitucionalmente se considera ateu, há que contemplar também na lei o casamento polígamo, já que, "Na sua origem, o ser humano é polígamo", conforme confirma a famosa sexóloga Erika Morbeck, bem como o casamento grupal. O respeito pela liberdade de pensamento impõe, igualmente, a sua legalização.
No meu tempo, os rapazes apaixonavam-se pelas raparigas e sonhavam com o dia em que se uniam pelo matrimónio. Era o dia mais feliz das suas vidas. Concretizavam, assim, o sonho de uma vida e nascia o fruto do amor que dedicavam um ao outro: os filhos.
No meu tempo …
Ai que saudades desse tempo!
C.Nobre [8/JUN/2010]
O FUTURO DO PENSAMENTO ECONÓMICO
Todos os diagnósticos económicos actuais encontram-se padronizados pelo pensamento económico neoclássico. Existe claramente uma tendência para uniformizar o pensamento económico, tornando-o desinteressante, o que pode colocar em causa a existência da Economia como disciplina autónoma, substituindo-a por outros ramos da ciência.
São notórios os avanços nas ciências do conhecimento humano e assustadores os avanços tecnológicos, alterando os comportamentos sociais, enquanto que as teorias económicas passaram mais ao domínio da literatura do que à ciência.
A necessidade de interligar a economia com outras áreas tem vindo a ser incentivada na atribuição de alguns prémios Nobel, nomeadamente, em 1991 a Ronald Coase, cujo trabalho se situou entre a Economia e o Direito, em 1992 a Gary Becker, premiando o desenvolvimento no campo da análise dos mais variados aspectos do comportamento humano, em 1993 a Robert Fogel, no campo da História Económica e principalmente em 1988 ao ser laureado o indiano Amartya Sen, pelas suas contribuições para a economia do bem estar (1), situando o prémio no limite entre a Economia e a Filosofia.
A análise empírica, o desenvolvimento da economia experimental e a aliança com outras ciências sociais, trarão certamente novos contributos para o bem estar dos povos, descapitalizando o que é humano e humanizando o capital. Ou não fosse esse o objectivo da economia: a satisfação das necessidades humanas através da distribuição equilibrada dos bens produzidos, tendo em conta a realidade dos povos e das suas culturas.
C.Nobre (2000)
(1) Para medir o desenvolvimento de uma economia é imperioso levar em conta, para além dos indicadores tradicionais, o Índice de Desenvolvimento Humano e o Índice de Pobreza Humana.