quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Dedicado a todas as mulheres vítimas de violência

Hoje Recebi Flores!
Não é o meu aniversário ou nenhum outro dia especial; tivemos a nossa primeira discussão ontem à noite e ele disse muitas coisas cruéis que me ofenderam de verdade.
Mas sei que está arrependido e não as disse a sério, porque ele me enviou flores hoje.
Não é o nosso aniversário ou nenhum outro dia especial.

Ontem ele atirou-me contra a parede e começou a asfixiar-me.
Parecia um pesadelo, mas dos pesadelos acordamos e sabemos que não é real.
Hoje acordei cheia de dores e com golpes em todos lados.
Mas eu sei que está arrependido porque ele me enviou flores hoje.
E não é São Valentim ou nenhum outro dia especial.

Ontem à noite bateu-me e ameaçou matar-me.
Nem a maquilhagem ou as mangas compridas poderiam ocultar os cortes e golpes que me ocasionou desta vez.
Não pude ir ao emprego hoje porque não queria que se apercebessem.
Mas eu sei que está arrependido porque ele me enviou flores hoje.
E não era dia da mãe ou nenhum outro dia.

Ontem à noite ele voltou a bater-me, mas desta vez foi muito pior.
Se conseguir deixá-lo, o que vou fazer? Como poderia eu sózinha manter os meus filhos? O que acontecerá se faltar o dinheiro? Tenho tanto medo dele!
Mas dependo tanto dele que tenho medo de o deixar.
Mas eu sei que está arrependido, porque ele me enviou flores hoje.

Hoje é um dia muito especial: É o dia do meu funeral.
Ontem finalmente conseguiu matar-me.
Bateu-me até eu morrer.
Se ao menos tivesse tido a coragem e a força para o deixar...
Se tivesse aceitado a ajuda profissional...
Hoje não teria recebido flores! 

terça-feira, 30 de novembro de 2010

"... E de novo acredito que nada do que é importante se perde verdadeiramente. Apenas nos iludimos, julgando ser donos das coisas, dos instantes e dos outros. Comigo caminham todos os mortos que amei, todos os amigos que se afastaram, todos os dias felizes que se apagaram. Não perdi nada, apenas a ilusão de que tudo podia ser meu para sempre."
Miguel Sousa Tavares no funeral da mãe, Sophia de Mello Breyner Andresen

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Capela em Santiago do Cacém

Ribeira de Campilhas em Alvalade, junto à ponte romana

DESIDERATA

Vai serenamente por entre a agitação e a pressa e lembra-te da paz que pode haver no silêncio.

Sem seres subserviente, mantém-te tanto quanto possível, em boas relações com todos.

Diz a tua verdade calma e claramente e escuta com atenção os outros, mesmo que menos dotados e ignorantes; também eles têm a sua história.

Evita as pessoas barulhentas e agressivas; são mortificações para o espírito.

Se te comparas com os outros podes tornar-te presunçoso ou melancólico porque haverá sempre pessoas superiores e inferiores a ti.

Apraz-te com as tuas realizações tanto como com os teus planos. Põe todo o interesse na tua carreira ainda que ela seja humilde; é um bem real nos destinos mutáveis do tempo.

Usa de prudência nos teus negócios porque o mundo está cheio de astúcia; mas que isto não te cegue a ponto de não veres virtude onde ela existe; muitas pessoas lutam por altos ideais e em todo o lado a vida está cheia de heroísmo.

Sê fiel a ti mesmo. Sobretudo não simules afeição nem sejas cínico em relação ao amor porque, em face da aridez e do desencanto, ele é perene como a relva.

Toma amavelmente o conselho dos mais idosos, renunciando com graciosidade às ideias da juventude.

Educa a fortaleza de espírito para que te salvaguarde numa inesperada desdita. Mas não te atormentes com fantasias. Muitos receios surgem da fadiga e da solidão.

Para além de uma disciplina salutar, sê gentil contigo mesmo.

Tu és filho do universo e tal como as árvores e as estrelas, tens direito de o habitar. E quer isto seja ou não claro para ti, sem dúvida que o universo é–te disto revelador.

Portanto vive em paz com Deus seja qual for a ideia que d´Ele tiveres. E quaisquer que sejam as tuas lutas e aspirações na ruidosa confusão da vida, conserva-te em paz com a tua alma.

Com toda a sua falsidade, escravidão e sonhos desfeitos o mundo é ainda maravilhoso.

Sê alegre. Luta para seres feliz.

A letra desta música baseia-se num manuscrito de 1692, encontrado em Baltimore, na antiga Igreja de S. Paulo.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

As Mulheres da Minha Geração

É o único tema em que sou radical e intolerante e do qual não escuto argumentações.

As mulheres da minha geração são as melhores e pronto! Hoje têm quarenta e muitos, inclusivé cinquenta e tal, e são belas, muito belas, porém, também serenas, compreensivas, sensatas e sobretudo diabólicamente sedutoras, isto, apesar dos seus incipientes pés-de-galinha ou da afectuosa celulite que molda as suas coxas, mas que as fazem tão humanas, tão reais. Formosamente reais.

Quase todas, hoje, estão casadas ou divorciadas, ou divorciadas e casadas, com a intenção de não se equivocar no segundo intento, que, às vezes é um modo de acercar-se do terceiro e do quarto intento. Que importa?
Outras, ainda que poucas, mantêm um pertinaz celibatarismo, protegendo-o como uma fortaleza sitiada que, de qualquer modo, de vez em quando, abre as suas portas a algum visitante.

Que belas são, por Deus, as mulheres da minha geração!

Nascidas sob a era de Aquário, com a influência da música dos Beatles, de Bob Dylan, de Lou Reed, do melhor cinema de Kubrick e do início do boom latino-americano, são seres excepcionais.

Herdeiras da revolução sexual da década de 60 e das correntes feministas, que entretanto receberam passadas por vários filtros, souberam combinar liberdade com solidariedade, emancipação com paixão, reivindicação com sedução.

Jamais viram no homem um inimigo, apesar de lhe cantarem umas quantas verdades, pois compreenderam que, se emancipar era algo mais do que colocar o homem para limpar casas de banho ou trocar o rolo de papel higiénico quando este trágicamente se acaba, e decidiram pactuar para viver a dois, essa forma de convivência que tanto se critica, porém, que com o tempo, resulta ser a única possível, ou a melhor, ao menos neste mundo e nesta vida.

São maravilhosas e têm estilo, mesmo quando nos fazem sofrer, quando nos enganam ou nos deixam.

Usaram saias indianas aos 18 anos, enfeitaram-se com colares andinos, cobriram-se com suéteres de lã e perderam a sua parecença com Maria, a Virgem, numa noite louca de Sexta-feira ou de Sábado, depois de dançar uma salsa, com algum amigo que lhes falou de Kafka, de Nietzsche ou do cinema de Bergman.

No fundo das suas mochilas havia pacotes de tabaco, livros de Simone de Beauvoir e fitas de Victor Jara, e ao deixar-nos, quando não havia outra saída, dedicavam-nos aquela canção de Héctor Lavoe que é ao mesmo tempo um clássico do jornalismo e do despeito, e que se chama “Teu amor é um jornal de ontem”.

Falaram com paixão de política e quiseram mudar o mundo, beberam rum cubano e aprenderam de cor canções de Silvio Rodriguez e Pablo Milanez. Conheceram os sítios arqueológicos, foram com os seus namorados às praias, dormiram em tendas e deixaram-se picar pelos mosquitos, porque adoravam a liberdade e, sobretudo, juraram amar-nos por toda a vida, algo que, sem dúvida fizeram e que hoje continuam fazendo na sua formosa e sedutora maturidade.
Souberam ser, apesar da sua beleza, rainhas bem educadas, pouco caprichosas ou egoístas.
Deusas com sangue humano.

O tipo de mulher que, quando lhe abrem a porta do carro para que suba, inclina-se sobre o assento e, por sua vez, abre a porta do seu acompanhante por dentro.
A que recebe um amigo que sofre, às quatro da manhã, ainda que seja seu ex-noivo, porque são maravilhosas e têm estilo. Ainda quando nos fazem sofrer, quando nos enganam ou nos deixam, pois o seu sangue não é tão gelado o suficiente para não nos escutar nessa salvadora e última noite, na qual estão dispostas a servir-nos o oitavo uísque e a colocar, pela sexta vez, aquela música do Santana.

Por isso, para os que nascemos entre as décadas de 40 e 60, o dia da mulher é, na verdade, todos os dias do ano, cada um dos dias com as suas noites e amanheceres, que são mais belos, como diz o bolero, quando está você.

Que belas são, por Deus, as mulheres da minha geração!

Escrito por Santiago Gamboa
Tradução livre de Luiz Augusto Michelazzi

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Mãos

olho as minhas mãos abertas
mãos que esperam e desesperam pela tua mão
ergo o olhar para o azul e lá me encontro
perdido num infinito mar de esperança

procuro-te qual vagabundo sem rumo
por entre as densas nuvens do desejo
voando por esse céu que me limita
mas não te alcanço

queria beber no teu corpo de água
toda a primavera que adiei
saborear a tua frescura
e renascer dentro dos teus olhos

queria ser o que sempre fui e não viste
e abrir as minhas mãos vazias
onde cabe todo o mundo que és tu
CN 2003

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

E tu partiste

Lá,

no mar atrás das dunas,
há gaivotas que rodopiam e esvoaçam,
enebriadas pela maresia

Aqui,
na areia ainda quente,
há o adeus do Sol
e os reflexos roxos do seu último abraço

Ali,
onde as árvores dançam,
há a união do chilrear dos pássaros
e do murmúrio do vento

Em mim, percorrida por ti,
há a guerra da paixão

Cabelos negros,
olhos castanhos ou negros também.
A pedra fria sobre o meu tédio.
Os teus gestos, o teu rir, o teu olhar,
as palavras que significavam tanto

Tinhas de partir também
ou até a ti tocou o absurdo?

1972

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Adeus amigo

Hoje morreu o meu amigo Arménio Lança. Foi durante a madrugada numa dessas estradas assassinas do nosso país. Conhecíamo-nos desde sempre, os nossos pais são amigos, estudámos juntos e ele como mais velho foi meu conselheiro, irmão protector e sobretudo amigo.

É pá, sinto mesmo a tua falta, ainda que muitas vezes só nos víssemos naqueles jantares anuais, sempre em 23 de Dezembro, com a malta toda. E agora? Há uma cadeira que vai ficar vazia para sempre.

Não quero falar do galinheiro, daquele tempo inesquecível, não quero falar da música que ouvíamos na minha casa naquele gira discos das Selecções do Reader's Digest, dos longos serões a contar anedotas, nem das matinés que organizávamos com as raparigas da nossa idade.

Tinha tanto para escrever mas não consigo porque estou emocionado e porque dói. Não te vou dizer até já, porque sei que nunca mais voltarás, dir-te-ei antes que jamais esquecerei todos aqueles momentos que nos fizeram felizes.

Adeus Méninho, agora é mesmo para sempre.

quinta-feira, 15 de julho de 2010

“A característica verdadeiramente revolucionária do conhecimento é que pode ser aprendido também pelos fracos e pelos pobres. O conhecimento é a fonte de poder mais democrática, o que o torna uma ameaça contínua para os poderosos”
ALVIN TOFFLER

Santo Ofício

Tu lhes dirás, meu amor, que nós não existimos.
Que nascemos da noite, das árvores, das nuvens.
Que viemos, amámos, pecámos e partimos
Como a água das chuvas.

Tu lhes dirás, meu amor, que ambos nos sorrimos
Do que dizem e pensam
E que a nossa aventura,
É no vento que passa que a ouvimos,
É no nosso silêncio que perdura

Tu lhes dirás, meu amor, que nós não falaremos
E que enterrámos vivo o fogo que nos queima,

Tu lhes dirás, meu amor, se fôr preciso,
Que nos espreguiçaremos na fogueira

José Carlos Ary dos Santos
A liturgia do Sangue (1963)

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Filmes a não perder

Não há dúvida que os anos 40 e 50, foram os anos de ouro do cinema de actor, durante os quais a qualidade da representação se sobrepôs às outras disciplinas do cinema.
Rita Hayworth foi um mito de hollywood e Glenn Ford considerado um actor de poucos recursos. No entanto, GILDA é uma obra-prima que qualquer amante de cinema não pode deixar de ver. Realizado por Charles Vidor, foi um filme avançado para a época (1946), cheio de sensualidade e até erotismo. Rita Hayworth e Glenn Ford tiveram aqui o seu momento de glória para puro prazer de quem gosta de cinema. É um clássico indispensável.

quarta-feira, 30 de junho de 2010

Foste para além do mar, num barco que não vi partir.
Sinto o gelo da tua ausência na minha carne e a falta do teu abraço.
Dói-me a solidão e o meu pensamento voa à tua procura
por esta imensidão de areia, céu e mar.

Preciso encontrar-te, meu amor, porque estou perdida.
Dá-me a tua mão e leva-me para lá das ondas deste mar onde me afogo
C.N. Jun/2010

domingo, 27 de junho de 2010

Encontro

A jovem cruzou, olharam-se, ele seguiu-a e disse-lhe qualquer coisa. Pouco depois vejo-os juntos dentro de um daqueles carros eléctricos, que andam por todos os lados. Ela cora e ele sorri. Qualquer deles tem pouco mais de 18 anos.
Venho-me embora. Não quero presenciar os carros pararem e escutar uma voz metálica dizendo:
- Esta corrida terminou. Rápido! Rápido! Outra corrida.

É que o sonho de dois jovens nunca devia terminar!

1971

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Morreu José Saramago

Hoje dia 18 de Junho de 2010 morreu o homem mas a obra é imortal.
Obrigado Saramago!

POEMA À BOCA FECHADA

Não direi:
Que o silêncio me sufoca e amordaça.
Calado estou, calado ficarei,
Pois que a língua que falo é de outra raça.

Palavras consumidas se acumulam,
Se represam, cisterna de águas mortas,
Ácidas mágoas em limos transformadas,
Vaza de fundo em que há raízes tortas.

Não direi:
Que nem sequer o esforço de as dizer merecem,
Palavras que não digam quanto sei
Neste retiro em que me não conhecem.

Nem só lodos se arrastam, nem só lamas,
Nem só animais bóiam, mortos, medos,
Túrgidos frutos em cachos se entrelaçam
No negro poço de onde sobem dedos.

Só direi,
Crispadamente recolhido e mudo,
Que quem se cala quando me calei
Não poderá morrer sem dizer tudo.

(José Saramago In OS POEMAS POSSÍVEIS, Editorial CAMINHO, Lisboa, 1981. (3ª edição):

Filmes a não perder

Aconselho a verem o filme The Last Station (2009) de Michael Hoffman (O Clube do Imperador), que conta com interpretações brilhantes de Christopher Plummer, Helen Mirren e Paul Giamatti, tendo os 2 primeiros sido nomeados, quer para os Óscares, quer para os Globos de Ouro.
Relata os últimos anos da vida do escritor russo Leon Tolstoy, homem de convicções, cuja ideologia política se incompatibilizou com o amor que sempre dedicou à sua Condessa Sofia, com quem foi casado durante 48 anos.

domingo, 13 de junho de 2010

Maneira de bem sonhar

Vive a tua vida. Não sejas vivido por ela. Na verdade e no erro, no gozo e no mal-estar, sê o teu próprio ser. Só poderás fazer isso sonhando, porque a tua vida real, a tua vida humana é aquela que não é tua, mas dos outros. Assim, substituirás o sonho à vida e cuidarás apenas em que sonhes com perfeição. Em todos os teus actos da vida real, desde o de nascer até ao de morrer, tu não ages: és agido; tu não vives: és vivido apenas.
Torna-te, para os outros, uma esfinge absurda. Fecha-te, mas sem bater com a porta, na tua torre de marfim. E a tua torre de marfim és tu próprio.
E se alguém te disser que isto é falso e absurdo, não o acredites. Mas não acredites também no que te digo, porque se não deve acreditar em nada.
F.Pessoa
O Livro do Desassossego

Lívia Rév Chopin Nocturne in E flat major Op 9 No 2

NO MEU TEMPO

No meu tempo, o casamento era fruto do amor entre duas pessoas de sexos diferentes. Agora deixou de ser. Acabo de saber que o amor não existe apenas entre um homem e uma mulher. Esta geração descobriu que o conceito de amor é muito mais lato. Existe também entre dois homens ou entre duas mulheres. Então toca de arranjar meios legais, apadrinhados pelo nosso presidente, para que um homem possa casar com outro homem e uma mulher possa casar com outra mulher.

Na natureza as fêmeas acasalam com os machos, salvo nos casos de hermafroditismo. Agora provou-se que a natureza nem sempre tem razão.

Mas esta geração impõe um limite: embora considere o amor como um conceito muito mais abrangente que a geração anterior, só pode acontecer entre seres humanos. Quem pense que pode casar com o cão ou com o gato (ou com o burro), tire daí a ideia. Ainda que goste mais do animal do que de qualquer ser humano.

Como o Estado constitucionalmente se considera ateu, há que contemplar também na lei o casamento polígamo, já que, "Na sua origem, o ser humano é polígamo", conforme confirma a famosa sexóloga Erika Morbeck, bem como o casamento grupal. O respeito pela liberdade de pensamento impõe, igualmente, a sua legalização.

No meu tempo, os rapazes apaixonavam-se pelas raparigas e sonhavam com o dia em que se uniam pelo matrimónio. Era o dia mais feliz das suas vidas. Concretizavam, assim, o sonho de uma vida e nascia o fruto do amor que dedicavam um ao outro: os filhos.

No meu tempo …

Ai que saudades desse tempo!

C.Nobre [8/JUN/2010]

O FUTURO DO PENSAMENTO ECONÓMICO

Todos os diagnósticos económicos actuais encontram-se padronizados pelo pensamento económico neoclássico. Existe claramente uma tendência para uniformizar o pensamento económico, tornando-o desinteressante, o que pode colocar em causa a existência da Economia como disciplina autónoma, substituindo-a por outros ramos da ciência.

São notórios os avanços nas ciências do conhecimento humano e assustadores os avanços tecnológicos, alterando os comportamentos sociais, enquanto que as teorias económicas passaram mais ao domínio da literatura do que à ciência.

A necessidade de interligar a economia com outras áreas tem vindo a ser incentivada na atribuição de alguns prémios Nobel, nomeadamente, em 1991 a Ronald Coase, cujo trabalho se situou entre a Economia e o Direito, em 1992 a Gary Becker, premiando o desenvolvimento no campo da análise dos mais variados aspectos do comportamento humano, em 1993 a Robert Fogel, no campo da História Económica e principalmente em 1988 ao ser laureado o indiano Amartya Sen, pelas suas contribuições para a economia do bem estar (1), situando o prémio no limite entre a Economia e a Filosofia.

A análise empírica, o desenvolvimento da economia experimental e a aliança com outras ciências sociais, trarão certamente novos contributos para o bem estar dos povos, descapitalizando o que é humano e humanizando o capital. Ou não fosse esse o objectivo da economia: a satisfação das necessidades humanas através da distribuição equilibrada dos bens produzidos, tendo em conta a realidade dos povos e das suas culturas.

C.Nobre (2000)

(1) Para medir o desenvolvimento de uma economia é imperioso levar em conta, para além dos indicadores tradicionais, o Índice de Desenvolvimento Humano e o Índice de Pobreza Humana.