não posso mais ficar!
Já sei de cor os passos de cada dia,
na boca as mesmas palavras
batidas nos meus ouvidos...
-Ai as desgraças humanas destas paisagens iguais!..
Abro os olhos e não vejo
já não ando, já não oiço...
Não posso mais...
Grita-me a Vida de longe
e eu vou-me embora para além do Tejo.
Passa a ave no céu bebendo azul e diz: -Vem!
O vento envolve-me numa carícia,
envolve-me e murmura: -Vem!
As ondas estalam nas praias e vão mar fora,
as mãos de espuma a prender-me os sentidos
chamam no fundo dos meus olhos: -Vem!
- Camaradas, eu vou, esperai um pouco...
Ai, mas a vida nunca espera por ninguém...
E a noite chega vingadora;
o vento rasga-me o fato,
as ondas molham-me a carne
e a ave pia misticamente no ar;
abro os olhos e não vejo,
já não ando,já não oiço
-e fico, desgraçado de ficar!..